SERRA DA BODOQUENA
Até a segunda metade do século XX, o Estado de Mato Grosso do Sul apresentava-se coberto, em quase sua totalidade, por vegetação nativa. A partir da década de 40 iniciou-se um processo de contínua modificação dessas paisagens naturais. As florestas estacionais e semi-deciduais da Região Centro-Sul do Estado foram intensamente exploradas pela indústria madeireira e seqüencialmente substituídas por extensas monoculturas e pecuária extensiva de baixa produtividade. Atualmente o Mato Grosso do Sul conta com menos de 30% da sua cobertura vegetal nativa (FUNDAÇÃO CÂNDIDO RONDON, 2007). Na Bacia Hidrográfica do Rio Miranda, a qual abrange cerca de 12% da área do Estado, a situação não é diferente. Um levantamento realizado em 2004 apontou que mais de 80% de sua área encontra-se ocupada por agricultura, campos e pastagens, com destaque para cultura da soja, o arroz de sequeiro e irrigado e o milho (PEREIRA & MENDES, 2004).
A Serra da Bodoquena encontra-se inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Miranda e ocupa uma posição estratégica para a conexão dos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal, o que também lhe confere uma alta diversidade biológica. Sua importância é reconhecida nacionalmente e internacionalmente, o que lhe conferiu os títulos de prioridade extremamente alta para conservação no Mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira (MMA, 2002; MMA, 2007); zona núcleo da Reserva da Biosfera do Pantanal, cuja principal função é assegurar a proteção da biodiversidade (RBMA, 2007) e; integrante do Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquena, que visa a manutenção de um corredor entre os biomas cerrado e pantanal. Além disso, devido as suas características peculiares, no ano de 2000 foi criado o primeiro Parque Nacional do Estado do Mato Grosso do Sul, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena com cerca de 76.000 hectares.
Porém, apesar de abrigar um imenso patrimônio natural e ser fundamental para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos da região, a Serra da Bodoquena vem sofrendo com vários impactos ambientais advindos da ocupação e atividades econômicas desenvolvidas na região.
Um estudo realizado pela Conservação Internacional estimou que até 2004, cerca de 44,55% dos 363.442 km2 da Bacia do Alto Paraguai teve sua vegetação original suprimida. Destes, cerca de 136.102 km2 ou 37,44% da BAP foram em áreas de Planalto e o restante na própria planície pantaneira. O estudo ainda apontou que municípios como Jardim e Bodoquena já perderam entre 40 e 60% de sua vegetação original, enquanto Bonito já perdeu entre 60 e 80% (HARRIS, et al. 2005). Outro estudo aponta que boa parte da vegetação original localizada no entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena já foi substituída por áreas de pastagem cultivada (FUNDAÇÃO NEOTRÓPICA DO BRASIL, 2005).
O resultado dessa ocupação desordenada é uma grande perda da biodiversidade original da região. Apesar disso, a região da Serra da Bodoquena ainda possui o maior remanescente de florestas do Estado do Mato Grosso do Sul com formações de cerrado, floresta estacional semi-decidual e floresta estacional decidual. Esta última considerada uma das formações vegetais mais seriamente ameaçadas do Brasil (STRAUBE, 2006).
As características hidrológicas e geológicas da Serra da Bodoquena com a formação de rochas carbonáticas fazem da região a mais importante e significativa das cinco áreas de recarga dos aqüíferos da bacia do Alto Paraguai, de acordo com o diagnóstico ambiental do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai -PCBAP. Além disso, as litologias calcárias que compõem a Serra da Bodoquena são responsáveis pelos inúmeros rios cristalinos, cachoeiras, represas naturais, tufas calcárias, rios de sumidouros e grutas, tão característicos da região e que a tornaram um famoso destino de ecoturismo no Brasil e a transformaram em uma das cinco maiores províncias espeleológicas do país.
O turismo vem crescendo muito nos últimos anos e está exercendo um forte impacto econômico na região. Isso vem ocorrendo principalmente na porção sul da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda. (MATO GROSSO DO SUL, 2001; PEREIRA & BARRETO, 2003). Apesar do município de Bonito se destacar nessa atividade, outros municípios como Jardim e Bodoquena também apresentam alto potencial turístico e vem desenvolvendo ações para incentivar a atividade na região.
Nesse contexto o turismo pode surgir como uma oportunidade de atividade de menor impacto e que pode ser mais compatível com a conservação da região já que os visitantes buscam na região o contato com a natureza e suas famosas águas claras. De fato, na região existem alguns avanços conceituais e operacionais, que tornam menores os impactos de tal atividade, tais como: obrigatoriedade de acompanhamento de guia credenciado e limites na capacidade de visitação em alguns atrativos turísticos (SABINO & ANDRADE, 2002). Porém acomodar e ajustar o crescente número de visitantes na região da Serra da Bodoquena vem se tornando um grande desafio, o qual exige um sério planejamento e ações de controle e monitoramento da atividade.
Os municípios de Bonito, Bodoquena, Jardim e Porto Murtinho contam com apenas uma unidade de conservação de tamanho expressivo, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena com cerca de 76.000 ha. Além do Parque, Bonito conta ainda com dois Monumentos Naturais Estaduais: da Gruta do Lago Azul e do Rio Formoso e as RPPNs Fazenda da Barra e São Geraldo. Jardim também possui outras unidades de conservação, sendo elas: RPPN Cabeceira do Prata, RPPN Xodó do Vô Ruy e RPPN Buraco das Araras.
Algumas iniciativas de organizações não governamentais e do setor privado têm sido importantes para desacelerar o processo de degradação da região, apesar disso existe urgência em investimento em ações de fiscalização e monitoramento ambiental por parte do poder público, além de programas de recuperação e conservação ambiental. Além disso, a criação de áreas protegidas sejam elas, públicas ou privadas, assim como investimentos na efetiva implantação destas áreas são fundamentais para a conservação desse inestimável patrimônio que é a Serra da Bodoquena.